Takeover | Carollina Lauriano

Como mais uma das nossas ações voltadas para tornar a Piscina um espaço de encontro, agora no mundo virtual, convidamos a curadora independente @carollinalauriano para o ocupar o nosso Instagram entre os dias 8 e 14 de junho. Carollina é formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo. Tem extensão em Pesquisa e Análise de Tendências (em arte, design e moda) pela Central Saint Martins e atua como curadora independente desde 2017. Em 2018 passou a integrar o time de curadoria e gestão do Ateliê397.

Em sua pesquisa busca discutir a inserção, os desafios e conquistas de jovens mulheres artistas no mercado da arte. Dentre seus principais projetos estão as exposições 'O Corpo além do corpo' (2019), na Ponder70, São Paulo, Brasil; 'Céus Cruzados' (2019), primeira individual da artista Sol Casal no Ateliê397, São Paulo, Brasil e 'A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos' (2019), que reuniu 18 artistas racializadas na Galeria Baró para apresentar e discutir a produção de corpos dissidentes dentro do mercado de arte.

Durante a semana de ocupação Carollina trouxe algumas de suas referências mais importantes. E a primera imagem escolhida por ela é uma das mais fortes da história da arte. Trata-se da Judit decapitando a Holofernes (1614-20), da italiana Artemísia Gentileschi. Artemísia foi uma das poucas pintoras mulheres a conseguir certo reconhecimento em seu ofício naquele momento, não sem enfrentar inúmeras dificuldades. Inclusive há indícios de que esse quadro foi pintado como um gesto de vingança simbólica contra o homem que estuprou Artemísia quando ela tinha 18 anos. No texto que acompanhou a imagem Carollina comentou que está muito interessada nos processos de apagamento na Historia da Arte e que por isso quis voltar ao trabalho da pintora barroca, fazendo menção ao artigo “Por que não houve grandes mulheres artistas?”, da historiadora Linda Nochlin, que resenhamos há um tempo atrás aqui no nosso blog.

Artemísia Gentileschi, Judit decapitando a Holofernes,1614-20.

Artemísia Gentileschi, Judit decapitando a Holofernes,1614-20.

A segunda imagem postada, ainda na perspectiva das questões do apagamento e disputas de narrativas, foi de um trabalho de Howardena Pindell, que levantou polêmicas na época de seu lançamento, chamado Free, white and 21 (1963). Carollina iniciou recentemente uma pesquisa sobre a artista que, segunda ela, incluiu “uma nova camada na discussão do feminismo na arte e a busca pela inclusão e reconhecimento das mulheres nesse campo estava ligado diretamente as questões brancas burguesas, e como tal pensamento não dava conta de ser plural e abarcar questões das minorias majoritárias”.

Recentemente, em maio de 2020, Carollina foi convidada para participar do Ciclo de Leitura da SP-Arte, no qual ela e a editora Bárbara Mastrobuono discutiram o texto de Howardena acerca de Free, white and 21. Clique aqui para conferir a conversa.

Howardena Pindell, Free, white and 21, 1963.

Howardena Pindell, Free, white and 21, 1963.

O terceiro post falou sobre uma live que a artista e escritora Grada Kilomba participou com Jochen Volz, no perfil da Pinacoteca-SP, em que ela comentou sobre a importância da linguagem e da criação de narrativas que deem conta de incluir experiências diversas de mundo.

A quarta artista trazida por Caroll, a partir de uma leitura de Paul Preciado foi Lorenza Böttner, “que em sua trajetória artística registrou seus momentos de transição. Lorenza se manifesta retratada em desenhos, pinturas e registros fotográficos para documentar o seus processos de transição e as minúcias cotidianas da construção-experiência de ser trans e ter um corpo que possui uma outra possibilidade de funcionalidade”.

Lorenza Böttner, Face Art, 1983.

Lorenza Böttner, Face Art, 1983.

A ocupação finalizou com imagens de duas artistas que também discutem as questões de apagamento, a partir do corpo, principalmente a partir do trabalho com autorretratos: Ana Mendieta e Nona Faustine.

Ana Mendieta, Facial Hair Transplant, 1972.

Ana Mendieta, Facial Hair Transplant, 1972.

Nona Faustine, Over my dead body, New York City Hall, 2013.

Nona Faustine, Over my dead body, New York City Hall, 2013.

Foi um prazer acompanhar o percurso que a Carollina criou com as imagens e reflexões propostas ao longo dessa semana. Fizemos esse breve resumo para ter um registro desse momento aqui no blog, mas vale muito a pena conferir os comentários da Carollina na íntegra diretamente em nosso Instagram e fazer essa viagem na historia da arte pelas mãos de uma guia excepcional.