fôlego #3 | nosso tempo
Como viver? Wislawa Szymborska finaliza o poema Ocaso do século com essa pergunta, considerada por ela das mais urgentes, ainda que possa parecer ingênua. A reflexão sobre como viver o nosso tempo nos afeta cotidianamente. Em momentos de crise, ganha força e o nosso pensamento dispara para tentar encontrar respostas.
E qual é a contribuição da arte nessa reflexão? Em primeiro lugar, vale dizer que não deveria ser exigido da arte qualquer tipo de resultado prático, além dela mesma. A arte já é uma ação no mundo. A arte cria fissuras, apresenta formas de agir, olhar, existir e pensar que não necessariamente se referem de forma direta ao tempo presente. A arte faz e repete incessantemente as perguntas ingênuas e urgentes.
A relevância do ativismo é inegável, mas é necessário compreendê-lo dentro do limite que o caracteriza. Ele atua no presente e busca soluções rápidas e concretas. A arte não atua nessa esfera, embora possa fazer parte dela. O teórico teatral Hans-Thies Lehmann, afirma em um ensaio sobre Antígona, que "o limite da política é o tempo" e que “a política pode controlar as vidas, mas não a morte”.
E qual é o sentido de dialogar com a morte?
Ao intervir nesse limiar entre vida e morte, a arte ocupa um lugar que ultrapassa o presente. Associações inesperadas, função ritual, trabalho sobre a memória, justaposição temporal e espacial são algumas das estratégias utilizadas pelos artistas para agir em diálogo com essas duas camadas indissociáveis da existência.
Há uma urgência qualquer em nosso tempo que demanda um embate pela coragem. A sensação de estar perdido como lugar de produção do novo. Importa menos se encontrar, do que seguir juntos pelos caminhos labirínticos da incerteza. Talvez no labirinto seja possível criar uma saída para a prisão imposta pelos tantos poderes podres que afetam as nossas vidas. Quando bater o desespero, respirar e pensar que estamos todos aqui, atados a esse tempo, mas não somos seus prisioneiros. Sempre haverá uma força para além de nós, para além desse tempo, e é preciso buscá-la.
(Ana Luiza Fortes)